O não-dito é areia movediça. É o que ficou na garganta preso,
o que ficou nas entrelinhas, o que não foi dito porque revelação (ou seria
apens uma constatação?) que agride a natureza do que seria dito. Há coisas que
nem deveriam ser geradas para não ficarem mofando no terreno do não-dito, pois
há coisas que não conseguem sair desse lugar. O não-dito fere, salva,, derruba,
levanta, afunda, arranha, enrijece, amolece. O não-dito é um lugar pra onde as
ilusões migram, lá elas constroem morada. É um refúgio do que não deveria ser,
do que não tem razão de ser, daquilo que é não-dito por quem o gera. O não-dito
é uma oração mal feita, um pecado, uma blasfêmia por não ter força de ser dito.
Pecado construir esse lugar onde habitam coisas não-ditas...O não-dito é fácil
de ser identificado (quanta ironia! Ele não é invisível!) se camufla nos
sorrisos quando perto de alguém, no brilho do olhar, nas palavras que ficam
perdidas no caminho do estômago para a boca, que ficam penduradas na ponta da
língua. São um quase eterno e angustiante.
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"Se você procura alguém coerente, sensata, politicamente correta, racional, cheia de moralismo: Esqueça-me!
Se você sabe conviver com pessoas intempestivas, emotivas, vulneráveis, amáveis, que explodem na emoção: Acolha-me!"